Um dos meus exercícios hoje foi lembrar de lugares e pessoas que me fizeram feliz.
Do nada recebo uma mensagem da Renata, nos conhecemos há 40 anos, é um tempo razoável... hahahahahahahahah
Nos relembramos de várias passagens.
Coisas que não fazemos ideia, mas que ficam na memória das pessoas.
E eu já era muito ousada com 8 anos de idade.
Eu tinha pressa, e caimos num rio porque eu queria encurtar o caminho para a escola, pegar um atalho.
Mudava o horário do relógio para meu pai pensar que cheguei na hora certa.
Relembrou que ganhei um concurso de desenho na escola.
Foi uma viagem no tempo, um tempo em que tudo era bom, eu me sentia no auge da liderança e da consolidação de uma esperteza nata.
Hoje eu lidero.
Ensino pessoas a encurtarem seus caminhos sem cair nos buracos, mesmo que eu me arrebente toda.
Encorajo-as como fiz com a Renata no primeiro dia de aula, lhe dizendo que ia dar tudo certo e que poderíamos ser amigas.
Sigo repetindo os padrões de uma infância um tanto adulta para minha idade na época.
Continuo impaciente internamente, porém equilibrada perante o mundo corporativo.
Eu fui uma criança criativa e um pouco acima da média, hoje sou uma senhora que ainda carrega alguma ousadia.
Incrível como a criança e a senhora conversam com coerência.
Como estão alinhadas e em perfeita harmonia.
Tenho orgulho da criança e a criança vê em mim o exato lugar que gostaria de chegar.
A boa notícia é que chegamos.
A má é que ainda temos muito para seguir. Muito rio para pular, muito atalho para pegar, muita gente para pegar na mão e encorajar a pular junto.
Minha criança criativa e ousada de mãos dadas com a senhora que não parou no tempo.
Temos muito trabalho, as duas concordam e se entendem.
Temos muito o que desenhar e muitos concursos para vencer.
Me sinto no melhor dos mundos, diante do pior cenário.
Me sinto forte e grande diante da fragilidade do mundo e das minhas próprias.
Aquela Cris que se sentiu rejeitada quando o Aldinho nasceu, hoje convive com gente que não ri da sua criança ferida, mas que trouxe de volta a Cris segura, criativa, líder, a que compreende que a vida não pode parar por causa de um episódio.
Uma vida digna de ser vivida sempre é acompanhada de gente que reconhece que se pode cair no atalho, porém aprende-se como não cair mais e seguimos de mãos dadas.
Caimos um dia e no restante do ano abreviamos nosso caminho e chegamos mais cedo na escola, dava tempo de conversar mais, brincar mais, foi desafiador, mas aprendemos a não cair depois daquele dia.
Vencer o concurso me fez adquirir autoestima. Recebi os elogios e admiração de uma classe toda, além da figura máxima, a professora.
Hoje pinto a vida, a minha e das pessoas.
Quero que se sintam bem em sua própria pele, como quem ganha um concurso de desenho.
A liderança tem sido para mim um grande espelho.
Preciso me incentivar antes de fazer isso com qualquer um.
Preciso tirar forças de onde as vezes não tenho.
Preciso antes de falar ter as melhores palavras dentro de mim.
Mais do que rios, hoje atravesso uma pandemia.
Uma funcionária afastada.
Uma equipe amedrontada, que vai com medo mesmo.
A liderança me trouxe um propósito muito maior do que eu mesma um dia imaginei.
No meu momento pessoal mais desafiador, me ouvir nos coachings foi um bálsamo para alma.
Do outro lado do rio, quero comigo gente corajosa.
Amizades como essa que me relembram o que fui e como foi chegar até aqui.
Meus ganhos e perdas.
Minha personalidade singular.
Meu jeito de lidar com o mundo e com as situações mais diversas.
A criança e a senhora hoje dormirão muito feliz.
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