Aprendi com o sofrimento que nunca devo ter medo de perder alguém.
O que devo temer, é perder a mim mesma.
Tenho esquecido de respirar.
São dias a flor da pele.
Estou irritada, sem paciência nenhuma, falando muito e me expondo demais.
Há um certo desequilíbrio.
Tento equilibrar todos os pratinhos, nem sempre consigo.
Me cobro mais que o necessário.
Estou me alimentando mal, temo não voltar ao meu peso.
Tenho dormido mais ou menos.
O tédio me pega pela mão.
Tento me consolar dizendo: é apenas um momento, uma fase.
Nestas horas quero apressar as horas e torço para que os dias passem logo.
Não consigo chorar.
Deveria? Talvez.
Vez ou outra tenho momentos de descompressão.
Preciso de domingos mais longos, sem fazer nada.
Preciso de um tempo para cuidar de mim.
Preciso falar com alguém que me ouça, sem me oferecer soluções.
Preciso deixar a lágrima cair, e o vazio ir embora.
Mas por enquanto, me finjo de forte.
Até o dia 24 é assim.
Talvez dia 25 eu precise ser também.
Papai Noel, por favor me ajuda.
Há algum tempo não venho aqui.
Tenho estado em muitos lugares, mas tenho sentido saudades de mim.
E o tempo, este tão apressado tempo, tem seguido em uma velocidade absurdamente ligeira.
O que faz muitas vezes, atropelar e me sentir atropelada.
Cobrar e me sentir cobrada.
Apressar e me sentir apressada.
Tempo sem trégua.
Tempo que me engole sem dó.
Tempo que passa, e passa, e passa…
Tempo de alinhar.
Tempo que me falta e que tento a todo momento, doar aos que amo.
Tempo que me faz priorizar tantas coisas e muitas vezes esquecer do principal, de mim.
Eu gostaria de descobrir os reais motivos destas noites mal dormidas.
Não é muito fácil administrar nosso próprio caos, imagina o caos alheio.
Te agradeço pelos filtros, realmente eu já administro coisas demais.
Reserve para nós boas conversas, bons momentos e bons vinhos.
É tudo o que eu preciso neste momento.
Não somos só coisas boas, mas também não precisamos evidenciar coisas ruins.
Eu sempre precisei de lugares silenciosos, tamanho o barulho que sou internamente.
Eu sempre busquei por gente paciente, tamanha a impaciência que carrego por trás de um semblante suave.
Eu sempre esperei a poeira assentar, tamanha a bagunça que fiquei nos últimos tempos.
Te agradeço por me explicar coisas que eu gostaria de deixar pra lá justificando a falta de tempo.
Te agradeço por me trazer para um lugar de onde eu nunca deveria ter saído.
Se te faço ver a vida com outros olhos, você me faz sentir com o coração.
Quando a vida está turbulenta, me pego com pensamentos borbulhantes e me espremo no tempo para me caber, penso que o mundo dos adultos não é linear.
Ele é cheio de altos e baixos, ele pulsa e sacode com força, te desarma para te mostrar que nem sempre você estará no controle.
Te mostra outras maneiras de fazer esse olhar viciado ver.
Manda um vento fresco e frio para que sinta, nem que seja alguma coisa.
Da ternura que um dia tive hoje sobrou muito pé no chão.
Da amorosidade estampada nos meus olhos, ficaram rastros que passeiam vez ou outra.
O carinho, este não pode faltar. Nasci e sou cinestésica por natureza.
Gosto de toques. Mas gosto de escolher quem me toca.
Não sou território aberto a quem quer que chegue. Sou propriedade particular, a qual pede-se autorização para entrar.
Compartilho o que julgo necessário dentro do grau de intimidade que temos.
Você pode ter tudo ou nada.
E a ninguém entrego mais minha integridade de pensamentos e mostro minha vida sem véus.
As partes em mim que considero mais preciosas, estão guardadas a sete chaves.
A esse grande mestre chamado tempo, brindo com um tinto maravilhoso.
Brindo a vida.
Brindo as respostas do tempo que joga na cara de quem ele quiser as respostas que não pude dar um dia.
Brindo com força tudo que tive que engolir sem muito conforto.
Brindo lindamente a minha paz de espírito com a certeza de que sempre entreguei o meu melhor.
Tempo você é bom comigo!
Você é o Senhor da razão.
Brindo hoje com um grito de alegria, tudo que um dia engoli em silêncio.
Afeto.
É o que afeta.
É o que você sente por alguém.
É o que toca o seu coração antes de tocar o seu cérebro.
Fiquei na zona vermelha da hora que acordei até agora.
Espantando fantasmas, assombrações e afins o dia todo.
Tenho rezado tanto, para me proteger do que não vejo, não percebo, mas sinto.
Sempre senti muito.
A intensidade me fez transformar dias comuns em verdadeiras festas.
Mas me machuquei com tamanha intensidade também.
Por isso me tornei mais ponderada, mas não menos emocionada.
Foi bom chorar.
Foi bom expor as minhas dores.
Sou humana.
Preservo tanta gente.
Mas preciso me preservar e dar a mim mesma a devida importância.
Limites foram feitos para serem respeitados .
É uma maneira de dizer: não é permitido avançar, pare exatamente onde está!
Você me tira das minhas verdades absolutas e me coloca para sentir, para pensar, para me expressar.
Após sentimentos congelados, você foi dia após dia retirando fragmentos deste freezer que virou o meu coração.
Tenho sempre o colo que preciso, a segurança mínima que sempre busquei, a liberdade de dizer e também de sentir, sem restrições.
Gosto das suas chegadas e suas partidas não me causam desconforto, sei que é apenas um até breve.
Gosto dos nossos mesmos gostos.
De compartilhar o copo, a taça, o chuveiro e a cama.
Sou mais frágil do que eu gostaria quando estou com você. Mas sou o que sou. Lembro-me que as outras versões são o que preciso ser.
Você me tira do sério no bom sentido.
Quebra as minhas resistências e durezas adquiridas ao longo do tempo.
Você tem o dom de me desmontar, quando eu penso em uma bronca, antes de verbalizar escapa um sorriso, rindo de mim mesma.
Afinal como fazer isso?
Gosto deste desarme proposital.
Sou reativa e competitiva por natureza.
Mas você me ensinou que não preciso e nem devo ser esta pessoa.
Posso na intranquilidade, ter paz.
Posso na insegurança, confiar.
Posso no momento tenso, esquecer tudo e relaxar.
Como sempre me diz: você pode tudo.
Tudo o que quiser.
Mais uma festa para a conta.
Março não nos deixou descansar.
Nos exigiu forças extremas, paciência para lidar com humores alterados, estômago para circular em ambientes que não gostamos tanto assim.
Mas também brotaram sorrisos em horas inesperadas e ritmos diferentes do que estamos acostumados.
Dançamos literalmente conforme a música.
Nos vestimos, nos despimos.
A vida nos recebeu preparados para a feira e para o baile.
Conversamos amenidades e coisas sérias.
Conversas difíceis também fazem parte da vida dos adultos.
Eu insegura te deixei inseguro.
Você inseguro, me ofereceu segurança.
Dentro deste espaço que criamos, não cabem dramas por muito tempo.
As dúvidas se esclarecem com a mesma boa vontade com que se declaram carinho.
Percebo seus esforços, eles me fazem acreditar que tudo vale a pena.
O que tenho sido para mim?
Tem sido tão diferente tudo, eu que sempre fui de muitos estímulos, tenho preferido a calma, o silêncio, a quietude.
Eu que sempre fui de tantos detalhes, me tornei uma minimalista.
Tenho sido para mim, o que fui com outros.
Tenho sentido um carinho em cuidar da vida sem tantas preocupações, sem pensar muito em amanhã e depois de amanhã.
Minha alma apressada se cansou.
Exausta, ela só quer um canto bom, um ombro para deitar e um ouvido atento.
Nas minhas conversas com Deus, ele sabe o que realmente me sustenta.
Há muito tempo me apego em mim, com todas as minhas forças.
Ainda não sei ao certo.
E talvez nem venha saber.
Entrego com alguma segurança algo que é tão meu.
Não tudo, nem tanto, nem muito.
Entrego a medida da minha generosidade, a medida da minha prudência comigo mesma, já que sou propensa a excessos.
Sei sobre a pessoa que me interessa.
Sei de mim, dos meus rumos e do caminho que trilho com tranquilidade.
Sem pressa, sem desespero, sem grandes apegos.
Mas caminhos bons. Que favorecem a mim e aos outros.
Porque caminhar sozinha nunca fez parte dos meus planos.
Negroni, wisky e cerveja foram as escolhas dele.
Eu fui de moscow mule sem álcool e água tônica saborizada.
Rimos muito.
E para a inveja de alguns nos beijamos muito.
Falamos bem das pessoas, apreciamos tantos sabores incríveis e cansados saímos à francesa.
Ainda tínhamos outra festa.
Era um ritual diário e de anos.
Usava sempre um bom sabonete líquido primeiro, esfoliava a pele de vez em quando, secava bem e em seguida usava água thermal ou água micelar.
Neste horário, a roupa ja estava esticada sob a cama, tudo bem organizado.
Primeiro o filtro com cor, para uniformizar a pele e esconder os muitos melasmas acumulados de uma vida de garota verão.
Depois alinhava as sobrancelhas, escovava-as por várias vezes, já se observavam algumas falhas que ela insistia em fazer crescer com aplicação de minoxidil.
Marcava com delicadeza a linha dos olhos com delineador marrom. Ouviu dizer uma vez que dava profundidade ao olhar, como se ela precisasse…
Algumas camadas de rímel. Sim, ela tinha orgulho daqueles cílios que todos perguntavam se era postiço. Levantava bem os olhos, principalmente em dias não tão animados, dava-lhe um ar sofisticado, de mulher bem cuidada.
Depois dedicava-se a aplicação do blush. Era sempre um tom muito próximo de sua rosácea.
Ela corava as vezes. Não sempre, mas era comum em algumas conversas ou quando pensava algo que não podia verbalizar.
E por último vinha o batom.
De alguns anos para cá, escolhia cores mais intensas. Cansou dos vários tons de nude. Era uma nova fase, queria mostrar-se colorida mesmo, era o seu momento.
Arrumada,ela se sentia pronta para tudo.
A maquiagem era a película necessária para protegê-la de tudo que precisa ser.
Sempre havia um retoque no meio da tarde.
À noite, ela sempre voltava cheia de si e das realizações do dia.
Retirava tudo, sabia que faria tudo igual no dia seguinte, mas se olhava sem maquiagem e despida de tudo que pudesse pesar.
Gostava daquilo, mas nunca se inibiu por estar de cara limpa.
Ela gostava de sentir o conforto de estar bem na própria pele.
Fui no correr do tempo, impaciente comigo.
Sem me dar conta de que o movimento por si só já é um avanço.
Tantos desistem ao menor contratempo.
Então vejo que estou aprendendo quando sou menos crítica comigo e aceito as minhas imperfeições.
O mundo me tratará como eu mesma me trato.
Com o tempo eu compreendi que tudo está em mim.
E que por mais que em alguns momentos eu queira compartilhar algo, no final sou sempre eu comigo mesma.
Com o tempo eu compreendi que não se deve lamentar o passado, pois dele fez-se o presente.
Com o tempo compreendi minhas angústias e as coloquei no devido lugar, pois foi por elas que fiz grandes movimentos para sair de lá.
Com o tempo compreendi que a minha inocência trouxe também a dose de malícia que eu precisava para sobreviver.
Com o tempo compreendi meu valor como um todo, não apenas por um cargo.
Com o tempo compreendi como é interessante passar por algumas experiências, elas me ensinaram a desejar outras, mas de maneira saudável.
Aprendi com o sofrimento que nunca devo ter medo de perder alguém. O que devo temer, é perder a mim mesma.