janeiro 30, 2022

janeiro 27, 2022

 As coisas se tornam mais simples quando pensamos: “é um outro ser humano, com as suas buscas…”


Conforto

 Escolheu um lugar melhor para ficar.

 Neste lugar há reciprocidade, verdade, sonhos possíveis de serem realizados, respeito no sentido bem amplo da palavra, afeto real.

 Há sabores que ela ainda não havia experimentado.

 Há calmaria sem ser entediante.

 Há movimento sem ser cansativo.

 Há troca sem cobrar nada.

 Este lugar trouxe novamente a vontade de ser vulnerável.

 De falar sem filtro, de agir com autenticidade, de ser leve no agir.

 Trouxe também a abertura necessária para diálogos profundos, filosóficos e engraçados.

 Afinidades sem projeções.

 Cuidado sem ser posse.

 Palavras certas em momentos incertos.

 Não apenas em períodos de festa, mas também neles.

 Não apenas quando há algum interesse, mas também na falta dele.

 Lugares confortáveis nos abraçam sem apertar.

 

 Deitou-se nos lençóis extremamente brancos, cheirosos, macios e prontos o seu descanso.

 Não se lembrava mais de quando havia sido a última vez que tomou um remédio para dormir.

 Ao lado da cama estava a água, os livros, os óculos e o óleo essencial de alecrim, esse aroma foi o escolhido de hoje.

 Deitou-se calmamente e só agradeceu em pensamento.

 Tinha tudo para estar tranquila.

 Adormeceu pensando em dobrar os sonhos.

 Vamos ver como estará na manhã seguinte…

 Comprou lupa nova e disse: “é para te enxergar melhor!”

 E pediu: me mostra, se mostra.

 Viu meu novo modelo e finalizou com um: ahhhh mas é linda demais!! 

 E ainda completou: dobre os sonhos e aumente a ousadia, ouça mais música, tome mais sol, quero te ver sempre assim.

 Procurou o melhor lugar.

 Queria sombra e sol.

 Levou seu kit, contendo toalha, protetor, máscara para o cabelo, vinho, taça e o gelo pegou direto na máquina.

 O cheiro dos protetores trouxeram lembranças da última viagem.

 E como nas férias, queria apenas relaxar.

 Queria não fazer nada, não pensar nada…

 Queria o silêncio e então fez cara de poucos amigos.

 Era esse o jeito dela se blindar de conversas pouco consistentes e olhares curiosos.

 Deitou. Silenciou e começou a beber o vinho, que não emocionou. Não esperava nada, não havia expectativa nenhuma, por isso o vinho sem emoção não lhe causou surpresa.

 O sol banhava seu corpo todo, era isso o que ela queria, sentir o calor, sentir a primeira gota de suor escorrer, queria só estar ali, presente.

 Sentiu o vento bagunçar os cabelos escovados e hidratados ontem e…adeus cabelos alinhados.

 Depois do silêncio. Depois do vinho. Depois do sol.   

 Conversaram.

 Falaram sobre bobagens. Riram. Riram de novo. 

 Beberam mais. Ela jurou não comprar mais vinho em lata. 

 Da próxima vez esconderá a garrafa de vidro, levará  seus  rosés preferidos, isso, mais de um.

 Passaram-se horas.

 O sol caiu, a chuva também.

 Ainda pensou em tomar com aqueles pingos gelados, mas faltou coragem.

 Riram mais.

 Tomaram sauna.

 Descansaram e ficaram olhando a chuva, o nada, o tudo e o todo.

 Sem pressa alguma.

 O dia passou devagar.

 O cansaço deu lugar ao ânimo.

 O sol deixou a pele rosada, se manchar, manchou.

 Não se preocupou com nada além do seu próprio bem estar.

 Sentiu prazer nesta pequena pausa e quebrou qualquer resquício de rotina.

 

Da ternura que um dia tive hoje sobrou muito pé no chão. Da amorosidade estampada nos meus olhos, ficaram rastros que passeiam vez ou outra....