A vida gira.
E com ela giram também os movimentos.
Nunca temi nenhum deles, mas fiquei um tempo elaborando de maneira mais tranquila os novos passos que eu poderia dar.
Ouvi meus chamados: volte.
E então pude novamente olhar no espelho aquela mulher que um dia deixei para trás.
Vi certa descrença em seus olhos.
Não sei ao certo nomear a emoção que senti.
Mas senti, e sempre sinto muito.
Muito mais do que gostaria. Muito mais do que expresso. Muito mais do que digo ou não.
Senti a lágrima escorrer pelo canto dos olhos. Não era tristeza, era o alívio de saber que ainda sinto.
Congelei tudo por um tempo.
Palavras, gestos, prazeres, afetos.
Acreditei que poderia viver sem eles e de fato consegui por um tempo.
Ser quem não sou custou-me muita insônia, falta de energia e alguns quilos a mais.
Dói não conseguir confiar.
Dói a descrença.
Dói a sensação de sempre se segurar para não se expressar.
Agora com os cômodos arrumados, volto a circular pela casa com gestos mais leves.
Hoje cuidei das minhas plantas como há muito não fazia.
Organizei meus armários, me desfiz dos excessos.
Acendi vários incensos.
Cozinhei e comi com prazer.
Tudo se reorganizou.
O aroma era de alecrim, analgésico suave já que não estou bebendo.
Hoje me embriaguei mesmo de presença, de cantos, de músicas, de velas, de boas palavras que ouvi e ofereci.
Estou de volta.
Já estava com muita saudade desta pessoa que gosto de fazer companhia, mimar, acariciar e ouvir.
Saudade deste self.
Vou no ritmo. Vou deslizando e ouvindo “Movimento de Primavera”.
Fiz um chá.
Savoring.
Savoring.
Savoring.
Estou de volta.
Voltei.
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