março 06, 2022

Movimentos

 A vida gira. 

 E com ela giram também os movimentos.

 Nunca temi nenhum deles, mas fiquei um tempo elaborando de maneira mais tranquila os novos passos que eu poderia dar.

 Ouvi meus chamados: volte.

 E então pude novamente olhar no espelho aquela mulher que um dia deixei para trás.

 Vi certa descrença em seus olhos.

 Não sei ao certo nomear a emoção que senti.

 Mas senti, e sempre sinto muito.

 Muito mais do que gostaria. Muito mais do que expresso. Muito mais do que digo ou não.

 Senti a lágrima escorrer pelo canto dos olhos. Não era tristeza, era o alívio de saber que ainda sinto.

 Congelei tudo por um tempo.

 Palavras, gestos, prazeres, afetos.

 Acreditei que poderia viver sem eles e de fato consegui por um tempo.

 Ser quem não sou custou-me muita insônia, falta de energia e alguns quilos a mais.

 Dói não conseguir confiar.

 Dói a descrença.

 Dói a sensação de sempre se segurar para não se expressar.

 Agora com os cômodos arrumados, volto a circular pela casa com gestos mais leves.

 Hoje cuidei das minhas plantas como há muito não fazia.

 Organizei meus armários, me desfiz dos excessos.

 Acendi vários incensos.

 Cozinhei e comi com prazer.

 Tudo se reorganizou.

 O aroma era de alecrim, analgésico suave já que não estou bebendo.

 Hoje me embriaguei mesmo de presença, de cantos, de músicas, de velas, de boas palavras que ouvi e ofereci.

 Estou de volta.

 Já estava com muita saudade desta pessoa que gosto de fazer companhia, mimar, acariciar e ouvir.

 Saudade deste self.

 Vou no ritmo. Vou deslizando e ouvindo “Movimento  de Primavera”.

 Fiz um chá. 

 Savoring.

 Savoring.

 Savoring.

 Estou de volta.

 Voltei.

 

 

 

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 Afeto. É o que afeta. É o que você sente por alguém. É o que toca o seu coração antes de tocar o seu cérebro.