Nunca tive dificuldade de nomear sentimentos.
Tive dificuldade em senti-los.
Até hoje quando algo me aborrece, eu prefiro fugir .
A mulher falante simplesmente se recolhe e não diz mais nada.
Fazia tempo que eu não chorava.
E fazia bastante tempo que eu não me olhava sem pressa.
Gosto de ficar sozinha às vezes para isso, para me sentir.
Para observar a quantas anda a minha ansiedade, para me observar com um todo.
Como estou por dentro, por fora, com andam os meus sonhos, os meus projetos e como me coloco no mundo.
Gosto de saber quem sou eu na fila do pão.
Me pergunto sobre a idade que tenho.
E ao chegar a minha resposta, percebo que já não me cabem mais muitas coisas.
Algumas roupas.
Algumas narrativas.
Algumas preocupações.
Já não quero dar tantas desculpas para mim mesma.
Vivo os meus melhores anos.
Porque simplesmente entendi que devo viver aquilo que me cabe, não o que eu imaginei.
Muitas coisas mudaram, não só por fora, não só para os outros.
E embora eu ainda queira me provar, para os outros já não há mais necessidade.
Aceito a vida que tenho, aceitar-me também foi uma função do tempo.
Ah… Quisera eu poder definir um a um todos os sentimentos que me cercam. Ah… Se eu pudesse controlar o incontrolável. Se eu pudesse definir...