Eu encontrei um homem tão diferente dos últimos tempos.
Aquele homem forte se transformou em um homem frágil, ofegante, com muita falta de ar, nitidamente afetado e cheio de sequelas.
Perguntei se estava bem e a resposta foi rápida: estou sobrevivendo.
Pensei, estamos!
E então vieram as perguntas de praxe.
O que está sentindo? Porque não veio no ano passado? Como está o sono?
Entre uma frase e outra, uma pausa para respirar.
E aquilo começou a me desconsertar.
O que você está sentindo?
Era medo.
Era receio de não encontrar as palavras certas.
Era uma tristeza enorme em estar naquela situação.
Era um desapontamento comigo mesma em não saber conduzir aquela situação.
Quem mais precisava de ajuda, ele ou eu?
Papéis invertidos e embaralhados.
Quando comentei o quanto o consumo de vinho e chocolate aumentou em casa, ele sorriu e disse: você gosta de coisa boa!
Sobre o meu medo de contágio: cuide-se.
Quando em tom negativo falei que estava indo para a loja da Oscar Freire, praticamente uma viagem, ele respondeu: encare como um passeio, coloca música alta, vai ouvindo e cantando.
Mais do que uma consulta do meu estado físico, tive uma consulta da alma.
Não pude apertar sua mão como de costume e saí com uma sensação estranha, com os olhos inchados de tanto chorar.
Antes de ir ainda me contou da sua pouca paciência, como a minha.
E me pediu para ter calma, que tudo vai passar...
Me passou um remedinho para a ansiedade, pasalix e muitos pedidos de exames.
Nos vemos em breve e tudo estará bem.
É o que mais desejo Dr Mário, para mim e para você.